quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Livro de um capítulo só - Desapego



A abracei forte, com toda a minha força. Ela chorava de soluçar. Eu senti uma lágrima dela cair e escorrer pelo meu pescoço. Um calafrio me subiu à espinha. A noite estava abafada, nenhuma brisa passava por nós. Quando afrouxei meus braços, olhei para o seu rosto, estava todo molhado de lágrimas, o lápis preto que ela tinha passado estava todo derretido. Seus olhos grandes e claros estavam banhados de lágrimas negras. Fiquei olhando pra ela por alguns segundos, tentei beijar seus lábios, mas ela se virou rapidamente e entrou no carro que a aguardava já ligado. Um casal de senhores que estava à nossa frente olhava tudo atentamente e cochichavam. Pelo vidro de trás me olhou, fez um aceno preguiçoso com a mão. Enquanto o carro seguia seu rumo, eu fiquei ali parado. Nos meus ombros estavam mais de uma tonelada, minha cabeça estava prestes a explodir, meu coração era acelerado, meu ar ofegante. Temi que fosse a última vez que veria Lívia, a moça mais bonita que passou por minha vida. Minha menina.
O carro que Lívia estava já tinha se perdido no meio das sombras, mas eu continuava ali parado. Uma angústia fez um nó na minha garganta e uma lágrima escorreu pelo meu rosto sem que eu percebesse. O senhor que estava à minha frente me estendeu um lenço e disse:
- Despedidas são sempre difíceis. 
Balancei a cabeça concordando. Ele estendeu a mão.
- Arnaldo Costa , prazer.
- Prazer, Gabriel Simões. 
- Pode ficar com o lenço, você vai precisar dele - disse o homem que parecia ter saído de uma revista de super-herói.
- Muito obrigado, senhor Arnaldo. É muita gentileza 
Meu sorriso era o mais amarelo possível. 
Com muito custo entrei no aeroporto. Com lágrimas nos olhos ainda fui até o guichê da companhia aérea e uma moça com cabelos presos, toda pintada me atendeu com um sorriso forçado que deixava transparecer cansaço.
- Despedidas né? - falou a moça de um jeito que parecia estar cantando
- Sim. São sempre difíceis. - sorri lembrando do senhor do lenço...(continua)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Livro de um capítulo só - Inquietude

23:29
23:30
23:31
23:32
23:33
Quatro minutos que fiquei pensando o que escrever para explicar minha inquietação
Na verdade, esses 4 minutos pareceram dias inteiros... dia, noite, sol, chuva, calor, frio
Nestes 4 minutos eu passeei pela minha fértil mente.
Unhas eu já não tenho mais, minhas pernas balançam como se eu esperasse por uma sentença de um juiz que diz  "assalto-seguido de estupro - seguido de morte - ocultação de cadáver " Parece que quando vai bater o martelo, tudo volta do começo. Não tem fim, é um julgamento interior eterno. 

Uma música do "chatonildo" Chico Buarque assola minha cabeça e ela diz "e por sonhar o impossível, sonhei que tu me querias"

Não tenho vontade de sair de casa pra trabalhar, de me exercitar, de sair pra me divertir. Todo mundo fala que isso faz mal, que faça. 

Há 3 meses eu acordo todos os dias às 4:35 da manhã em ponto de um sonho estranho. O mesmo sonho de sempre. Eu sozinho em um banco de uma praça, em um dia cinza e frio, com folhas caídas no chão. Eu vejo meus conhecidos, meus amigos, minha família passando por mim sem que soubessem que eu sou. Eu finjo dar um "olá" e um sorriso, mas parece que todos têm medo de mim e querem se afastar. Só ela se aproximava, sentava do meu lado e pedia perdão por ter me causado tão mal. O sorriso dela era o mais branco que eu já tinha visto, mais pareciam marfins polidos. Ela puxava uma carta, tinha minha letra. Ela me dava, mas minha vista ficava turva e não conseguia ler tudo que estava escrito. A única coisa que eu conseguia ler era "daquele que te ama e que nunca vai te esquecer". Quando me viro, ela já foi embora, eu só conseguia enxergar sua silhueta às sombras e quando levantava pra correr atrás dela, desesperado, acordava do sonho. 

Fiquei pensando outro dia, até dar a hora de ir trabalhar, se eu vou ser sozinho e é um sinal para que eu mude meu jeito. Não, não pode ser. Coisa da minha cabeça. Seja lá o que for, daqui a pouco muitos de vocês passarão por mim e ela vai sentar do meu lado por alguns instantes, vai acariciar meu braço e vai me dar a maldita carta. Vai embora sem que eu possa me despedir. Acordado e agoniado eu digo sem que alguém possa ouvir "Até amanhã".




sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Pequenez


Hoje me sinto pequeno
Não quero ver sorrisos, não quero ver olhos brilhantes
Tampouco fingir o riso que me acompanha
Hoje sou pequeno
Tão pequeno que passo quase que despercebido
As pessoas passam e ninguém percebe a angústia
Elas passam e não percebem as lágrimas
Às vezes pensam que choro de alegria – melhor pra mim-
Me esforço pra levantar, me esforço pra dar bom dia

Nunca em minha vida me senti assim

Tenho provocado lágrimas nos que me amam
Lágrimas que talvez eu nunca vá entender
Lágrimas que não percebo e ,de forma triste, me calo
Sem ter o que dizer fico frio e penso em abandonar tudo
Deixar tudo pra trás, mas não consigo sair do lugar
Meus pés estão presos em alguma coisa que não sei o que é
Medo? Pode ser

Nunca em minha vida me senti assim


Quero que esse sentimento vá embora
Meu coração que era grande, está pequeno
Não mais que uma gota de sangue é bombeado por ele
Às vezes me sinto cansado, sem vontade
Querendo que os dias passem
Que as noites cheguem para eu fechar os olhos em silêncio e, quem sabe, sonhar um sonho bom

Nunca em minha vida me senti assim